Por Sérgio Vieira
Passaram-se quarenta anos desde o dia em que uma bomba, preparada na Beira pelo sinistro inspector da PIDE, Casimiro Monteiro, assassinou Eduardo Chivambo Mondlane, Presidente da Frelimo. Muito do que descrevo já o Presidente Chissano declarou na Assembleia da República, pareceu-me pois útil, no meu exercício de memória, pôr os pontos nos is , para ajudar o fim da especulação com boa ou má fé. A essência dos dados, incluindo a origem da bomba, na época, a INTERPOL a pedido do governo tanzaniano investigou e difundiu.
Casimiro Monteiro, de origem goesa, preparou na Beira um livro com uma bomba armadilhada, numa obra do marxista Plekhanov. Ignora-se quem o instruiu para tal. No Malawi, no consulado português em Blantyre, dirigido por Jaime Pombeiro de Sousa, um associado de Jorge Jardim, Orlando Cristina entregou um pacote a um sacerdote belga, o Padre Pollet, que missionara muitos anos em Sofala e aí travara amizade com o Padre Mateus Pinho Gwenjere. Orlando Cristina pediu ao Padre Pollet, que ia para Songea, que levasse o embrulho para essa fronteira e aí buscasse alguém da FRELIMO, para que o remetesse a Silvério Nhungu ou a Urias Timóteo Simango em Dar-es-Salam. Assim fez o sacerdote e, encontrando na fronteira Samuel Rodrigues Dhlakama, que já conhecia, solicitou-lhe que entregasse o volume a Simango ou Nhangu.
De nenhum modo se pode afirmar que o Padre Pollet, com quem ainda falei depois do assassinato de Mondlane, conhecesse o conteúdo e o objectivo do embrulho. Ele mencionou-me que Cristina lhe entregara e o remetera a Samuel Rodrigues Dhlakama, que encontrara por acaso. Igualmente nunca se encontraram quaisquer dados sobre o envolvimento do Cônsul Jaime Pombeiro de Sousa, que dirigia o Consulado em Blantyre. O Padre Pollet disse-me que, após os eventos, as circunstâncias lhe criaram suspeição, encontro no consulado português e entrega do embrulho por Cristina, conhecido como agente português. Ele, como missionário, na região de Sena, necessitava de estar em contacto com as autoridades e sempre que ia a Blantyre, cumprimentava o cônsul ou outro representante do consulado. Se revoltado pela sua instrumentalização, se pela idade ou saúde, o Padre Pollet retirou-se de Moçambique.
Chegado a Dar-es-Salaam, Samuel Rodrigues Dhlakama telefonou a Nhungu, que lhe marcou um encontro num quarto de hotel (não me recordo do nome), que ficava junto à representação do MPLA em Dar-es-Salaam. Dhlakama entregou o embrulho a Nhangu, que estava acompanhado por Simango. Num dos dias seguintes, quando o Presidente Mondlane estava a sair do escritório, dirigindo-se para Oyster Bay, para casa de Betty King, onde trabalhava muitas vezes na ausência dela e do marido, o escritor Willy Sunderland, Nhungu voltou-se para uma camarada, a Rosária,que estava afectada à nossa representação na capital tanzaniana e disse: Corre para o carro do Presidente e entrega-lhe este embrulho. Esqueci-me de lhe dar. Tratava-se de um volume, com a forma de um livro, embrulhado sob a forma de um livro, com selos soviéticos e tanzanianos, e endereçado ao Presidente. Ao abrir o pacote a armadilha funcionou, matando Mondlane instantaneamente, a bomba dilacerou-lhe o tórax.
Dlakama quando transportou o embrulho, este estava dirigido a Nhungu e não se assemelhava a um objecto chegado via correio, segundo declarou a uma comissão de inquérito. A Rosária, segundo também declarou à mesma comissão, lembra-se que recebeu um pacote, com a aprência de vindo através dos correios, com selos e carimbos, endereçado a Mondlane. Pessoalmente, Samuel Dlakama e Rosária, além de outras pessoas, confirmaram este factos e a comissão de inquérito, que eu dirigi, constatou, por unanimidade, não haver qualquer indício que apontasse para o facto de eles não haverem agido de boa fé ou conhecessem o conteúdo do pacote antes do evento fatal, embora houvessem transmitido, depois dos eventos, suspeitas sobre o conteúdo. A Comissão considerou-os livres de qualquer suspeita e inocentes.
Simango e alguns dos seus colaboradores reconheceram os factos, embora Simango declarasse ao CC, em Abril de 1969, que ignorava o conteúdo do embrulho entregue a Silvério Nhungu, na sua presença no hotel.
Lázaro afirmou, a amigos e correligionários em Mtwara, a 1 de Fevereiro de 1969, que havia recebido um telefonema de Simango, nas vésperas do assassinato de Mondlane, para estarem atentos e fazerem uma festa quando recebessem boas notícias.
Fizeram a festa a 3 de Fevereiro depois de receberem um telefonema de Dar-es-Salaam! Quando procurado pela polícia tanzaniana, Lázaro atravessou a fronteira e entregou-se às forças armadas coloniais com alguns dos seus colegas, iniciando então uma actividade colaboracionista com o inimigo, indicando a este onde bombardear aldeias, escolas, hospitais e fazendo apelos à deserção através da rádio e gravações difundidas por altifalantes nos aviões.
O assassinato de Mondlane pelos colonialistas não se tratou de um caso único, infelizmente. Os assassinatos de Mondlane e Amílcar Cabral, respectivamente em 1969 e 1973, o ataque à República da Guiné em 1970, ocorreram durante o consulado de Marcello Caetano. Dificilmente se pode aceitar que o Presidente do Conselho de Ministros ignorasse estas acções e não as houvesse caucionado antes, ou depois.
Espero que os factos, que se podem verificar, ajudem a separar o trigo do joio e contribuam para pôr termo aos mitos de heroicidade de traidores e de satanismo de inocentes.
Um abraço a todos que prezam os ensinamentos de Mondlane.
P.S.: Lamento, depois de celebrarmos a memória do grande lutador Martin Luther King Jr., o plagiador local do sonho abandone o seu ponto de referência e revista-se do manto de Obama de Moçambique.
Como escreveu Engels, quando a História se repete, fá-lo como caricatura.
Precisa Moçambique, a democracia Nacional e a FRELIMO dum verdadeiro número um à cabeça da oposição, um histrião não serve. Consta que o edil da Beira se prepara para organizar um verdadeiro partido que agregue as forças sãs da oposição, que merece melhor.
A expulsão que vitimou o edil não conta. Coragem engenheiro e como César atravessando o Rubicão, saiba galgar o Chiveve.
Um abraço à seriedade e ao patriotismo, SV
Casimiro Monteiro, de origem goesa, preparou na Beira um livro com uma bomba armadilhada, numa obra do marxista Plekhanov. Ignora-se quem o instruiu para tal. No Malawi, no consulado português em Blantyre, dirigido por Jaime Pombeiro de Sousa, um associado de Jorge Jardim, Orlando Cristina entregou um pacote a um sacerdote belga, o Padre Pollet, que missionara muitos anos em Sofala e aí travara amizade com o Padre Mateus Pinho Gwenjere. Orlando Cristina pediu ao Padre Pollet, que ia para Songea, que levasse o embrulho para essa fronteira e aí buscasse alguém da FRELIMO, para que o remetesse a Silvério Nhungu ou a Urias Timóteo Simango em Dar-es-Salam. Assim fez o sacerdote e, encontrando na fronteira Samuel Rodrigues Dhlakama, que já conhecia, solicitou-lhe que entregasse o volume a Simango ou Nhangu.
De nenhum modo se pode afirmar que o Padre Pollet, com quem ainda falei depois do assassinato de Mondlane, conhecesse o conteúdo e o objectivo do embrulho. Ele mencionou-me que Cristina lhe entregara e o remetera a Samuel Rodrigues Dhlakama, que encontrara por acaso. Igualmente nunca se encontraram quaisquer dados sobre o envolvimento do Cônsul Jaime Pombeiro de Sousa, que dirigia o Consulado em Blantyre. O Padre Pollet disse-me que, após os eventos, as circunstâncias lhe criaram suspeição, encontro no consulado português e entrega do embrulho por Cristina, conhecido como agente português. Ele, como missionário, na região de Sena, necessitava de estar em contacto com as autoridades e sempre que ia a Blantyre, cumprimentava o cônsul ou outro representante do consulado. Se revoltado pela sua instrumentalização, se pela idade ou saúde, o Padre Pollet retirou-se de Moçambique.
Chegado a Dar-es-Salaam, Samuel Rodrigues Dhlakama telefonou a Nhungu, que lhe marcou um encontro num quarto de hotel (não me recordo do nome), que ficava junto à representação do MPLA em Dar-es-Salaam. Dhlakama entregou o embrulho a Nhangu, que estava acompanhado por Simango. Num dos dias seguintes, quando o Presidente Mondlane estava a sair do escritório, dirigindo-se para Oyster Bay, para casa de Betty King, onde trabalhava muitas vezes na ausência dela e do marido, o escritor Willy Sunderland, Nhungu voltou-se para uma camarada, a Rosária,que estava afectada à nossa representação na capital tanzaniana e disse: Corre para o carro do Presidente e entrega-lhe este embrulho. Esqueci-me de lhe dar. Tratava-se de um volume, com a forma de um livro, embrulhado sob a forma de um livro, com selos soviéticos e tanzanianos, e endereçado ao Presidente. Ao abrir o pacote a armadilha funcionou, matando Mondlane instantaneamente, a bomba dilacerou-lhe o tórax.
Dlakama quando transportou o embrulho, este estava dirigido a Nhungu e não se assemelhava a um objecto chegado via correio, segundo declarou a uma comissão de inquérito. A Rosária, segundo também declarou à mesma comissão, lembra-se que recebeu um pacote, com a aprência de vindo através dos correios, com selos e carimbos, endereçado a Mondlane. Pessoalmente, Samuel Dlakama e Rosária, além de outras pessoas, confirmaram este factos e a comissão de inquérito, que eu dirigi, constatou, por unanimidade, não haver qualquer indício que apontasse para o facto de eles não haverem agido de boa fé ou conhecessem o conteúdo do pacote antes do evento fatal, embora houvessem transmitido, depois dos eventos, suspeitas sobre o conteúdo. A Comissão considerou-os livres de qualquer suspeita e inocentes.
Simango e alguns dos seus colaboradores reconheceram os factos, embora Simango declarasse ao CC, em Abril de 1969, que ignorava o conteúdo do embrulho entregue a Silvério Nhungu, na sua presença no hotel.
Lázaro afirmou, a amigos e correligionários em Mtwara, a 1 de Fevereiro de 1969, que havia recebido um telefonema de Simango, nas vésperas do assassinato de Mondlane, para estarem atentos e fazerem uma festa quando recebessem boas notícias.
Fizeram a festa a 3 de Fevereiro depois de receberem um telefonema de Dar-es-Salaam! Quando procurado pela polícia tanzaniana, Lázaro atravessou a fronteira e entregou-se às forças armadas coloniais com alguns dos seus colegas, iniciando então uma actividade colaboracionista com o inimigo, indicando a este onde bombardear aldeias, escolas, hospitais e fazendo apelos à deserção através da rádio e gravações difundidas por altifalantes nos aviões.
O assassinato de Mondlane pelos colonialistas não se tratou de um caso único, infelizmente. Os assassinatos de Mondlane e Amílcar Cabral, respectivamente em 1969 e 1973, o ataque à República da Guiné em 1970, ocorreram durante o consulado de Marcello Caetano. Dificilmente se pode aceitar que o Presidente do Conselho de Ministros ignorasse estas acções e não as houvesse caucionado antes, ou depois.
Espero que os factos, que se podem verificar, ajudem a separar o trigo do joio e contribuam para pôr termo aos mitos de heroicidade de traidores e de satanismo de inocentes.
Um abraço a todos que prezam os ensinamentos de Mondlane.
P.S.: Lamento, depois de celebrarmos a memória do grande lutador Martin Luther King Jr., o plagiador local do sonho abandone o seu ponto de referência e revista-se do manto de Obama de Moçambique.
Como escreveu Engels, quando a História se repete, fá-lo como caricatura.
Precisa Moçambique, a democracia Nacional e a FRELIMO dum verdadeiro número um à cabeça da oposição, um histrião não serve. Consta que o edil da Beira se prepara para organizar um verdadeiro partido que agregue as forças sãs da oposição, que merece melhor.
A expulsão que vitimou o edil não conta. Coragem engenheiro e como César atravessando o Rubicão, saiba galgar o Chiveve.
Um abraço à seriedade e ao patriotismo, SV
DOMINGO - 08.02.2009
1 comentário:
Louvavel essa atitude do camarada Sergio Vieira de sacudir a poeira da historia e revelar-nos umas "verdades" que por muito tempo ficaram escondidas por razoes que nao sei.
Tenho estado a me perguntar, porque por longos anos nos disseram que Mondlane tinha morrido no seu escritorio quando na verdade(Sergio Vieira sabia) tinha morrido na casa de Beth King? Porque se escondeu essa verdade. Porque so agora nos dao a conhecer esses factos? Fico questionando sobre tudo mais que ja ouvi sobre a historia de Mocambique.
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